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campanha EDC | Perspectivas na Educação Digital Critica com jovens e sociedade civil do Brasil

02.08.2024 | Autoras: Soledad Magnone, André Cardozo Sarli, Laís Pinheiro, Yuri, Ketelen, Antônio Gabriel e Paulo

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A campanha “Educação Digital Crítica para todes” (EDC) promove o debate sobre o direito a uma educação de qualidade na era digital. As estratégias de educação digital em diferentes regiões do mundo têm sido insuficientes, favorecendo um ensino sem pensamento crítico e para fins do mercado de trabalho tecnológico. Isto aumenta as injustiças sociais ao privilegiar os interesses económicos e políticos de um pequeno grupo de empresas tecnológicas e de governos.

A EDC é coordenada em colaboração com ativistas e jovens da América Latina para várias ações de investigação, educação e advocacia. Seus principais resultados foram materialzados em blogs e podcasts, expandindo a comunidade na região. Reiteramos a campaha no 4 de junho de 2024 na Conferência FAccT (Justiça, Responsabilidade e Transparência) da ACM (Associação para Máquinas de Computação). Falamos com André Cardozo Sarli, Laís Pinheiro e jovens do Núcleo de Cidadania Adolescente (NUCA) de Vitória da Conquista da UNICEF e a Liga de Jovens Baianos.

Ouça o podcast e acesse a transcrição completa em português do Brasil.

Este blog resume algumas das principais conclusões de nossas interações. Falamos de futuros digitais mais justos e de ativar soluções com ativistas, educadores, jovens e pesquisadores do mundo inteiro. Musicalização do podcast João Lordelo, músico baiano, procurador da República e pesquisador dedicado aos direitos digitais.

Laís: Podemos ir por partes. Como é que veem as tecnologias nos espaços sociais de vocês?

Paulo: (…) A gente vê que não só dentro do nosso país, mas no mundo inteiro, a gente vive uma quantidade meio desigual: de informação, tecnologia, para alguns chegam de forma rápida, para outros chegam de forma mais demorada, e para outros nem chegam, principalmente as pessoas da zona rural. Realmente a gente vive uma desigualdade aí também na parte da tecnologia, e também eu costumo dizer que a tecnologia simplifica a nossa vida em alguns sentidos.

Ketelen: (…) A internet é uma coisa que, querendo ou não, a gente usa constantemente e muitas pessoas são afetadas por não terem o uso dela. Eu falo em relação a adquirir conhecimento, a se capacitar melhor em relação à educação, até na vida profissional e social.

Soledad: Latinoamérica e a região mais desigual socialmente do mundo. Onde é que vocês estão aprendendo sobre essas problemáticas e oportunidades que estão falando?

Yuri: Eu costumo aprender mais em casa mesmo. Eu acho que eu consigo aprender mais em casa do que na escola, não sei por quê. Em casa, eu acho que você se concentra. (…) Tem assuntos que, sim, eu tenho que aprender na escola, que eu consigo mais fácil aprender na escola, mas tem outros que eu consigo aprender mais em casa.

Ketelen: A gente vê isso mais no ensino médio, quando é matéria técnica, sobre a tal disciplina que é a informática, que aí a gente tem uma certa base de como funciona a internet. Normalmente a gente aprende mais em casa mesmo. No Instagram a gente vê um vídeo de alguém falando sobre, a gente cria interesse, vai no próprio Google e pesquisa sobre aquilo e vai se intensificando naquele assunto.

Laís: Vocês acham que deveria ter mais oportunidades para vocês explorarem esse mundo da tecnologia, para ver se a gente consegue diminuir esse abismo entre a questão social?

Ketelen: Eu acredito que sim. Querendo ou não, a internet faz parte da nossa vida hoje.

Paulo: Quando a gente tem um contrato de jovem com criança, acho que o impacto ainda é maior porque a gente, todos os dias, está ligado com essa tecnologia. Os adultos também sabem, mas a gente sabe os reais problemas que nós enfrentamos com a tecnologia hoje em dia. Então, ter um debate sincero e direto com outros jovens da mesma idade, da mesma faixa e talha ali, tem um impacto muito maior do que o adulto em si falando.

Yuri: A pandemia eu acho que foi o momento que a gente mais utilizou a internet, porque a gente, querendo ou não, não tinha contato com outras pessoas para a gente interagir, e inclusive, vou usar o meu exemplo, na pandemia, como a gente tinha mais aulas online, acabou que prejudicou a minha escrita, porque só de lá de teclas, só escrevendo no celular, acabou que quando voltou as aulas presenciais, eu não estava mais conseguindo escrever direito, a minha letra ficou horrível, já não era das melhores, ficou pior ainda.

André: Uma pergunta que eu gostaria de fazer. O que vocês aprenderam na escola?

Antonio Gabriel: Bem, na minha disciplina de história, a professora não recomendava o Wikipédia, justamente por conta que poderia haver informações falsas, porque ali todo mundo pode colaborar com o site. E muita gente pode usar isso de má fé para, como se diz, jogar informações falsas e sempre que a gente ia fazer pesquisa, ela pedia para a gente procurar fontes confiáveis, artigos, essas coisas assim.

Yuri: é, inclusive eu não sei se muitos conhecem a inteligência artificial do WhatsApp, Luzia na minha escola na minha escola até o ano passado Proibiram o uso de celular na sala porque os alunos estavam usando a inteligência artificial para responder atividades e para usar, quando passassem o trabalho e criar textos, eles iam na Luzia para criar o texto para eles.

André: É bem interessante saber disso. Eu não sabia nem que existia a inteligência artificial do WhatsApp. E você não acha que é um pouco contraditório que eles queiram que vocês tenham um ensino, queiram saber mais sobre a tecnologia de uma forma crítica, mas eles tiram o celular de vocês?

Antonio Gabriel: (…) Acredito que, no meu ponto de vista, deveria ter, assim, momentos ideais para utilização do celular e momentos que não utilizassem. Porque, querendo ou não, uma vez ou outra, você poderia fazer uma pesquisa que não está no livro. Tipo, muitos livros estão desatualizados, assim, aí na internet fica mais fácil você procurar sobre.

Laís: (…) E, realmente, às vezes a gente fala assim, poxa, mas a escola incentiva os das tecnologias, mas tira o celular da minha mão na hora da aula. Mas como é que esse celular vai ser utilizado na hora da aula. Essa é a questão, é a maneira como se utiliza, e não simplesmente utilizar por utilizar. Tem uma finalidade, sempre para a construção da informação, é sempre para a educação.

André: Eu queria apresentar para vocês alguns casos para a gente discutir brevemente: O governo do estado de São Paulo, que é um governo que está sendo bastante criticado por querer já abarcar a tecnologia, às vezes, de uma forma não muito crítica. Durante algum tempo, eles não quiseram mais comprar livros físicos, então somente livros digitais. E isso, por si, é um problema, porque nem todo mundo tem condições de ler um livro digital. A outra medida desse governo foi querer utilizar o ChatGPT, a inteligência artificial para produzir o currículo. Esse é um dos problemas que eu queria discutir com vocês, como é que a gente pode ter uma educação crítica, sendo que as pessoas que estão no poder, às vezes, utilizan essas ferramentas sem ser muito críticas, e qual que seria o problema da gente ter o ChatGPT para produzir aulas?

Da onde vêm essas informações que a Inteligência Artificial (IA) tira? Como eles conseguem esses dados? Os modelos que a gente chama de modelos de grande linguagem do ChatGPT foram feitos para escolher as respostas mais óbvias. Por exemplo, alguém colocou na IA do Google, “quantas gramas de mineral você precisa para você sobreviver”, e apareceu que você precisa comer uma pedra por semana. A segunda questão é que a maioria dessas IA são treinadas em dados que não são dados do nosso Sur Global. Se você for hoje pesquisar sobre indígenas no Google, no ChatGPT ou Google, a maioria dos dados que vai aparecer não são dados relativos à nossa realidade do Brasil ou da América Latina. A terceira questão, a gente já falou, diversos países têm restrição a que crianças e adolescentes utilizem celular na escola. Mas de outra forma está sendo um pouco paternalista, que você não deve utilizar o celular.

Então, uma das questões de a gente ter uma educação digital crítica e que seja responsável, transparente e justa, é que a gente tem que fazer esforços para que essas empresas que estão por trás.

Ketelen: O que você falou me fez lembrar que muitas vezes a gente substitui até uma avaliação de um médico presencial pelo Google. Estou sentindo isso, vou lá no Google e coloco. Estou sentindo dor de cabeça, enjoo, dor no estômago, o que pode ser. O Google sempre vai trazer uma coisa horrível. Que você está com câncer, que você está com aquilo.

Paulo: E eu falo muito sobre agora o metaverso está surgindo junto com a inteligência artificial em um âmbito muito maior. E aí as pessoas pensam as pessoas não vão precisar ir para as empresas trabalhar, as pessoas não vão precisar ir para a escola estudar, mas isso tem dificultado a mente das pessoas (…) É usar um óculos VR e você está ali no universo totalmente paralelo. Vou dar só um exemplo, o metaverso está sendo usado hoje com a NASA para meio que fazer a base da viagem para Marte.

Yuri: Muitas vezes as pessoas se focam tanto na internet e no celular que esquecem que tem o mundo lá fora. Também no seu envolvimento intelectual e no seu envolvimento psicológico. Porque muitas vezes a gente, como eu tenho usado o exemplo do Instagram, você entra no Instagram, todo mundo tem uma vida perfeita, ninguém fica doente, ninguém passa mal, não.

Soledad: O que vocês consideram, que recomendação poderiam fazer, dos pensamentos finais sobre a educação digital crítica desde seus pontos de vista e a conversa de hoje.

Paulo: Usar com consciência realmente vai causar um grande efeito e vai trazer um desenvolvimento muito grande dentro de nós mesmos aqui e também em outros âmbitos. Mas para isso tem que ser usado com consciência.

Yuri: Como o Paulo Vinícius disse, que a gente possa utilizar a internet com consciência e que a gente possa saber que sim, ela tem seus pontos bons e seus pontos negativos também.

Ketelen: Uma pessoa não faz a diferença. Várias pessoas fazem, sim. Então, se a gente se unir, se a gente se juntar e lutar para uma sociedade com conhecimento para conseguir ter uma geração no futuro mais capacitada, uma sociedade com até um bem-estar melhor.

Antonio Gabriel: Também levar para um ponto de alertar também, as escolas alertarem aos pais, justamente os adolescentes que entram nesses jogos como, vamos supor, Roblox, Free Fire, pois há muitas pessoas também lá que usam de má fé para seduzir as crianças, entre outras coisas. Então, acredito que a escola deveria também ter um papel essencial em alertar tanto os alunos em educação digital como os pais, pois é bem importante isso.

Laís: Às vezes não é só adquirir, não é só vem a nós. Mas vocês também se preocupam e fazem uma crítica construtiva ao uso dessas tecnologias que, como vocês bem disseram, vocês usam. Vocês utilizam essas tecnologias para vocês, mas vocês também consideram que isso pode ser muito perigoso caso vocês não saibam como ministrar. E as famílias precisam também estar atentas a esse diálogo.

André: Temos a questão da educação que tem alguns problemas que falta de foco na educação digital crítica no currículo e a participação do terceiro setor e a articulação de ONGs, de iniciativas que são por parte de adolescentes. O excelente trabalho do NUCA, os adolescentes, eu aprendi muito hoje. Isso já é uma das melhores formas de você fazer uma educação digital crítica, você compartilhar essas informações e fazer essas articulações.

Soledad: Obrigada pela informação. Estou muito agradecida, é um honor fazer conversa com vocês. Na campanha da Educação Digital Crítica pode ser traduzida, mas não é simplesmente traduzida, mas modificada, e como vocês querem que pode continuar a campanha.

Você gostaria de participar dessa conversa?

  • Acompanhe a campanha Educação Digital Crítica para Todes no site e nas mídias sociais da JAAKLAC e das organizações parceiras #digitaleducation #educaciondigital #educaçaodigital

  • Saiba mais sobre a NUCA (#nucavitóriadaconquista) e a Liga de Jovens Baianos em suas redes sociais. Conecte-se para apoiar o trabalho deles em questões de violência digital nas escolas, dados abertos aeroespaciais e muito mais.

Obrigada por nos ouvir! Esperamos que você tenha achado interessante.